Gastroplastia Endoscópica Vertical (ESG)

Revolução Minimamente Invasiva no Tratamento da Obesidade

A gastroplastia endoscópica vertical ou ESG (Endoscopic Sleeve Gastroplasty) tem ganhado destaque significativo como uma alternativa promissora e minimamente invasiva para o tratamento da obesidade em todo o mundo. Este procedimento inovador representa um avanço importante no campo da endoscopia bariátrica, oferecendo uma opção intermediária entre o tratamento clínico conservador e a cirurgia bariátrica tradicional.

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A ESG é um procedimento endoscópico que utiliza um dispositivo de sutura especializado para reduzir o volume do estômago através de plicaturas na parede gástrica. Diferentemente das cirurgias bariátricas convencionais, a ESG não requer incisões abdominais, sendo realizada inteiramente por via endoscópica através da boca.

O procedimento consiste na criação de uma série de suturas ao longo da grande curvatura do estômago, transformando-o em uma estrutura tubular que reduz sua capacidade em aproximadamente 60-70%. Essa redução volumétrica promove saciedade precoce e diminuição da ingestão calórica, resultando em perda de peso sustentada.

Mecanismo de Ação e Resultados

A ESG atua através de múltiplos mecanismos. Além da restrição mecânica do volume gástrico, estudos demonstram que o procedimento também promove o retardo do esvaziamento gástrico, resultando em saciedade prolongada. Essa combinação de efeitos contribui para os resultados de perda de peso observados.

Os resultados clínicos mostram eficácia significativa: a perda de peso total médio varia entre 15-20% do peso corporal total, com perda do excesso de peso entre 47-60% após um ano do procedimento. Em estudos brasileiros, foram observadas perdas de peso de 19,7% do peso total após um ano, com resultados similares aos reportados internacionalmente.

Perfil de Segurança e Complicações

Uma das principais vantagens da Gastroplastia Endoscópica Vertical é seu excelente perfil de segurança. Meta-análises demonstram taxa de eventos adversos entre 1,5-2,3%, significativamente menor que as cirurgias bariátricas tradicionais. As complicações mais comuns incluem sangramento gastrointestinal (0,5-1,8% dos casos), coleções perigástricas e prolongamento do internamento hospitalar por náuseas ou dor.

Em um estudo brasileiro com 222 pacientes, apenas 4 casos (1,8%) de complicações grau II ou superior foram registrados, todos relacionados a sangramento gastrointestinal, com recuperação completa em todos os casos. Importante ressaltar que não foram observadas mortes ou complicações graves de longo prazo

Experiência Brasileira e Consenso Nacional

O Brasil se destaca como um dos principais expoentes mundiais em endoscopia bariátrica. A ANVISA aprovou o dispositivo OverStitch® em 2017, e desde então o país desenvolveu expertise significativa na técnica. O Consenso Brasileiro sobre ESG, publicado em 2020, representa a experiência coletiva de 47 endoscopistas com 1828 procedimentos realizados.

Os dados do consenso brasileiro mostram perda média de peso corporal total de 18,2% em um ano, com taxa de eventos adversos de apenas 0,8%, sendo a hematêmese a complicação mais comum. Essa experiência consolidada posiciona o Brasil na vanguarda mundial da técnica.

Indicações e Critérios de Seleção da Gastroplastia Endoscópica Vertical

A ESG é particularmente indicada para pacientes com obesidade grau I e II (IMC 30-39,9 kg/m²), especialmente aqueles que não são candidatos à cirurgia bariátrica tradicional ou que a recusam. O procedimento também pode ser considerado para pacientes com obesidade grau III em situações selecionadas, como ponte para cirurgia futura ou em casos de alto risco cirúrgico.

Diferentemente das cirurgias bariátricas convencionais, que têm critérios mais restritivos, a ESG pode ser indicada para qualquer grau de obesidade a partir de IMC 30, ampliando significativamente o espectro de pacientes elegíveis para tratamento

Comparação com Cirurgias Bariátricas Tradicionais

Embora a Gastroplastia Endoscópica Vertical apresente menor eficácia em perda de peso comparada ao sleeve gástrico laparoscópico ou bypass gástrico, oferece vantagens importantes: menor invasividade, recuperação mais rápida, preservação da anatomia gástrica, ausência de malabsorção de nutrientes e menor risco de complicações.

A ESG não remove parte do estômago nem altera significativamente a produção hormonal, diferindo fundamentalmente das cirurgias bariátricas que promovem mudanças hormonais substanciais. Isso resulta em menor impacto metabólico, mas também em menor eficácia no controle de comorbidades como diabetes tipo 2

Durabilidade e Perspectivas de Longo Prazo

Estudos de seguimento mostram que a ESG mantém eficácia por pelo menos 2-4 anos. A durabilidade do procedimento é considerada boa, com possibilidade de repetição quando necessário. Alguns estudos reportam que o pico de perda de peso ocorre aos 9 meses, com possível estabilização ou pequeno reganho posterior.

A experiência acumulada de mais de 40.000 procedimentos realizados mundialmente, com mais de 200 publicações científicas e seguimento reportado de até 5 anos, demonstra a maturidade crescente da técnica.

Custo-Efetividade e Acesso

Análises de custo-efetividade demonstram que a ESG é altamente custo-efetiva comparada ao manejo clínico isolado para pacientes com obesidade grau II. Embora o custo inicial ainda seja elevado devido à novidade da tecnologia e necessidade de treinamento especializado, estudos indicam vantagem econômica quando considerados os benefícios de longo prazo

Perspectivas Futuras

A ESG representa uma evolução natural no tratamento da obesidade, preenchendo uma lacuna importante entre terapias conservadoras e cirúrgicas. O desenvolvimento contínuo da técnica, com refinamento dos padrões de sutura e crescente experiência dos especialistas, sugere potencial para melhoria adicional dos resultados.

Organizações internacionais como NICE, ASGE, ESGE, IFSO e WGO já reconhecem e recomendam a ESG como opção terapêutica válida. No Brasil, o consenso nacional estabelece diretrizes claras para a prática segura e eficaz do procedimento

Considerações Finais

A gastroplastia endoscópica vertical consolidou-se como uma alternativa segura, eficaz e minimamente invasiva para o tratamento da obesidade. Seus resultados promissores, perfil de segurança favorável e crescente aceitação mundial a posicionam como uma ferramenta valiosa no arsenal terapêutico contra a obesidade.

A experiência brasileira, com mais de 1800 procedimentos documentados e consenso nacional estabelecido, demonstra a maturidade e expertise do país na técnica. Com o aprimoramento contínuo da tecnologia e técnicas, a ESG promete desempenhar papel cada vez mais importante no manejo da epidemia global de obesidade, oferecendo esperança para milhões de pacientes que buscam alternativas menos invasivas para recuperar sua saúde e qualidade de vida.

Fontes