A colangite é uma condição médica séria que afeta milhares de pessoas no Brasil e no mundo. Esta inflamação do sistema de vias biliares pode causar complicações graves se não for diagnosticada e tratada adequadamente. O termo “colangite” deriva das palavras gregas “chole” (bile) e “angios” (vaso), referindo-se literalmente à inflamação dos ductos que transportam a bile.
As vias biliares desempenham um papel fundamental no processo digestivo, transportando a bile do fígado e da vesícula biliar para o intestino delgado. Quando esse sistema sofre obstrução ou infecção, pode desenvolver-se a colangite, uma emergência médica que requer atenção imediata. Esta condição apresenta sintomas característicos, conhecidos como a tríade de Charcot, que incluem dor abdominal, febre e icterícia.
Neste guia completo, abordaremos todos os aspectos importantes sobre a colangite, desde sua fisiopatologia até as mais modernas opções de tratamento. Compreender esta condição é essencial tanto para profissionais de saúde quanto para pacientes que buscam informações confiáveis sobre esta importante patologia do sistema hepatobiliar.
O sistema biliar é uma rede complexa de ductos que conecta o fígado, a vesícula biliar e o intestino delgado. Este sistema é responsável pelo transporte da bile, um fluido digestivo essencial de cor verde-amarelada que contém ácidos biliares, sais biliares e outras substâncias importantes para a digestão e absorção de gorduras.
A bile é produzida continuamente pelo fígado e armazenada na vesícula biliar, sendo liberada no duodeno (primeira parte do intestino delgado) quando necessária para a digestão. Os ductos biliares intra-hepáticos se unem para formar os ductos hepáticos direito e esquerdo, que se convergem no ducto hepático comum. Este se une ao ducto cístico da vesícula biliar, formando o ducto biliar comum ou colédoco.
Quando ocorre obstrução em qualquer parte deste sistema, a bile acumula-se nos ductos, causando aumento da pressão intraluminal. Esta estagnação da bile, combinada com o aumento da pressão, cria um ambiente propício para o crescimento bacteriano e o desenvolvimento de infecção, caracterizando a colangite.
A colangite aguda, também conhecida como colangite ascendente, é a forma mais comum e representa uma emergência médica. Esta condição desenvolve-se rapidamente quando bactérias ascendem do duodeno através do ducto biliar comum, infectando o sistema biliar obstruído. A obstrução biliar é um pré-requisito essencial para o desenvolvimento desta forma de colangite.
Os microrganismos mais comumente envolvidos incluem Escherichia coli, Klebsiella pneumoniae, Enterococcus species e Bacteroides fragilis. A progressão pode ser rápida, levando a sepse e choque séptico se não tratada adequadamente.
A colangite esclerosante primária é uma doença crônica e progressiva de origem autoimune que causa inflamação e fibrose dos ductos biliares. Esta condição leva ao estreitamento gradual dos ductos, resultando em obstrução progressiva e eventual cirrose hepática.
A CEP está frequentemente associada à doença inflamatória intestinal, particularmente a colite ulcerativa. O diagnóstico é baseado em achados característicos na colangiografia, que mostra um padrão de “contas de rosário” nos ductos biliares devido aos estreitamentos alternados com dilatações.
A colangite esclerosante secundária resulta de causas identificáveis, como trauma cirúrgico, isquemia, infecções recorrentes ou exposição a agentes tóxicos. Ao contrário da forma primária, a CES tem uma causa específica que pode ser tratada ou removida.
A colangite imune, também conhecida como colangite autoimune, é uma forma rara caracterizada por inflamação dos ductos biliares devido a uma resposta autoimune. Esta condição pode responder bem ao tratamento com corticosteroides em alguns casos.
A colangite desenvolve-se principalmente devido à combinação de obstrução biliar e infecção bacteriana. Qualquer condição que cause bloqueio do fluxo biliar pode potencialmente levar ao desenvolvimento de colangite.
Os cálculos biliares, especialmente os cálculos do ducto biliar comum (coledocolitíase), são a causa mais frequente de colangite aguda. Quando um cálculo obstrui o ducto biliar comum, impede o fluxo normal da bile, criando condições ideais para o crescimento bacteriano e desenvolvimento de infecção.
O colangiocarcinoma (câncer dos ductos biliares), carcinoma da cabeça do pâncreas e carcinoma da ampola de Vater podem causar obstrução biliar e predispor à colangite. Estes tumores geralmente causam obstrução progressiva e podem ser acompanhados de infecção secundária.
Os cálculos biliares, especialmente os cálculos do ducto biliar comum (coledocolitíase), são a causa mais frequente de colangite aguda. Quando um cálculo obstrui o ducto biliar comum, impede o fluxo normal da bile, criando condições ideais para o crescimento bacteriano e desenvolvimento de infecção.
O colangiocarcinoma (câncer dos ductos biliares), carcinoma da cabeça do pâncreas e carcinoma da ampola de Vater podem causar obstrução biliar e predispor à colangite. Estes tumores geralmente causam obstrução progressiva e podem ser acompanhados de infecção secundária.
Estenoses benignas dos ductos biliares podem resultar de cirurgia prévia, trauma, pancreatite crônica ou processos inflamatórios. Estas estenoses podem causar obstrução parcial ou completa, levando à estagnação biliar e infecção subsequente.
Procedimentos endoscópicos como ERCP (colangiopancreatografia endoscópica retrógrada), especialmente quando envolvem manipulação dos ductos biliares, podem introduzir bactérias no sistema biliar e causar colangite iatrogênica.
A apresentação clínica da colangite é caracterizada pela famosa tríade de Charcot, descrita pelo neurologista francês Jean-Martin Charcot. Esta tríade clássica inclui três sintomas principais que ocorrem em aproximadamente 50-75% dos casos de colangite aguda.
Em casos mais graves, podem estar presentes dois sintomas adicionais, formando a pentalogia de Reynolds: confusão mental e hipotensão (pressão arterial baixa). Esta apresentação indica colangite supurativa com sepse e representa uma emergência médica com alta mortalidade se não tratada imediatamente.
Além da tríade clássica, os pacientes podem apresentar:
Diversos fatores podem aumentar o risco de desenvolver colangite. O reconhecimento destes fatores é importante para a prevenção e diagnóstico precoce da doença.
Idade avançada: Pessoas acima de 50 anos têm maior risco devido à maior prevalência de cálculos biliares e outras condições predisponentes nesta faixa etária.
História de cálculos biliares: Pacientes com histórico de colelitíase ou coledocolitíase têm risco elevado de desenvolver obstrução biliar recorrente.
Procedimentos biliares prévios: Cirurgias ou procedimentos endoscópicos anteriores no sistema biliar podem causar estenoses ou aumentar o risco de infecção.
Doenças malignas: Tumores do trato hepatobiliar ou pancreático podem causar obstrução e predispor à colangite.
Imunossupressão: Pacientes imunocomprometidos têm maior susceptibilidade a infecções, incluindo infecções do trato biliar.
A colangite não tratada ou inadequadamente tratada pode levar a complicações graves e potencialmente fatais. O reconhecimento precoce e o tratamento adequado são essenciais para prevenir estas complicações.
Sepse e choque séptico: A infecção pode disseminar-se sistemicamente, causando sepse grave com falência de múltiplos órgãos.
Abscesso hepático: A infecção pode formar coleções purulentas no fígado, requerendo drenagem percutânea ou cirúrgica.
Insuficiência hepática: A obstrução prolongada e infecção podem causar dano hepático significativo.
Coagulopatia: A disfunção hepática pode afetar a síntese de fatores de coagulação, causando distúrbios hemorrágicos.
Insuficiência renal: A sepse pode levar à insuficiência renal aguda, especialmente em pacientes idosos ou com comorbidades.
O diagnóstico de colangite baseia-se na combinação de apresentação clínica, exames laboratoriais e estudos de imagem. Um diagnóstico rápido e preciso é crucial para o início do tratamento adequado.
Hemograma completo: Leucocitose (aumento dos glóbulos brancos) está presente na maioria dos pacientes, indicando processo infeccioso ativo. O desvio à esquerda sugere infecção bacteriana grave.
Testes de função hepática: Elevação da fosfatase alcalina (FA) e gama-glutamiltransferase (GGT) indica obstrução biliar. A bilirrubina total e direta estão geralmente elevadas, confirmando o padrão obstrutivo.
Hemoculturas: Podem identificar o agente causador da infecção em casos de bacteremia, orientando a terapia antibiótica específica.
Ultrassonografia abdominal: Exame inicial não invasivo que pode demonstrar dilatação dos ductos biliares, presença de cálculos e outras alterações estruturais.
Tomografia computadorizada: Fornece informações detalhadas sobre a anatomia biliar e pode identificar a causa da obstrução, especialmente tumores.
Ressonância magnética: A colangiopancreatografia por ressonância magnética (CPRM ou MRCP) oferece excelente visualização não invasiva dos ductos biliares.
ERCP (Colangiopancreatografia Endoscópica Retrógrada): Considerado o padrão-ouro para diagnóstico e tratamento da colangite. Este procedimento permite visualização direta dos ductos biliares e intervenção terapêutica simultânea.
Colangiografia Trans-hepática Percutânea (PTC): Alternativa quando a ERCP não é possível, permite acesso aos ductos biliares através de punção percutânea do fígado.
O tratamento da colangite requer abordagem multidisciplinar urgente, combinando terapia médica e intervenção para alívio da obstrução biliar. O sucesso do tratamento depende da rapidez do diagnóstico e início das medidas terapêuticas.
Reposição volêmica: A reposição adequada de fluidos é essencial para corrigir desidratação e manter estabilidade hemodinâmica, especialmente em pacientes com sepse.
Antibioticoterapia de amplo espectro: Deve ser iniciada imediatamente após o diagnóstico, mesmo antes da identificação do agente causador. Os antibióticos devem ter cobertura para bactérias gram-negativas e anaeróbios.
Correção de distúrbios eletrolíticos: Monitorização e correção de alterações eletrolíticas são importantes, especialmente em pacientes graves.
Suporte da coagulopatia: Vitamina K ou plasma fresco congelado podem ser necessários para corrigir distúrbios de coagulação.
A drenagem biliar é crucial para o sucesso do tratamento e deve ser realizada precocemente, idealmente nas primeiras 24-48 horas após o diagnóstico.
ERCP terapêutica: Procedimento de escolha que permite remoção de cálculos, dilatação de estenoses e colocação de próteses biliares (stents).
Drenagem percutânea: Alternativa quando a ERCP não é tecnicamente possível ou está contraindicada.
Cirurgia: Reservada para casos em que os métodos menos invasivos falharam ou em situações específicas como perfuração ou necessidade de reconstrução biliar.
Pacientes com colangite grave podem necessitar de cuidados em unidade de terapia intensiva, especialmente aqueles com sinais de sepse, choque ou falência de órgãos.
Embora nem todos os casos de colangite sejam preveníveis, algumas medidas podem reduzir significativamente o risco de desenvolvimento desta condição.
Tratamento adequado de cálculos biliares: Pacientes com histórico de cálculos biliares devem receber tratamento apropriado para prevenir complicações futuras.
Seguimento médico regular: Pacientes com fatores de risco devem manter acompanhamento médico regular para detecção precoce de problemas biliares.
Técnica asséptica em procedimentos: Procedimentos endoscópicos devem ser realizados com técnica rigorosamente asséptica para prevenir introdução de bactérias.
Profilaxia antibiótica: Em procedimentos de alto risco, pode ser indicada profilaxia antibiótica para prevenir infecção.
A colangite é uma emergência médica que requer atenção imediata. Procure atendimento médico urgente se apresentar:
O diagnóstico precoce e o tratamento adequado são fundamentais para prevenir complicações graves e reduzir a mortalidade associada à colangite.
Conclusão
A colangite é uma condição médica séria que requer reconhecimento rápido e tratamento adequado. A compreensão dos sintomas da tríade de Charcot, fatores de risco e opções de
tratamento é essencial para profissionais de saúde e pacientes.
Se você apresenta sintomas suspeitos de colangite, procure atendimento médico imediatamente. O tempo é crucial para um desfecho favorável.
Para mais informações sobre doenças do sistema digestivo e orientações médicas confiáveis, consulte sempre um profissional de saúde qualificado. A informação contida
neste artigo não substitui a consulta médica profissional.
